Mar de fósseis em cada esquina,
a urbe agoniza
com cheiro de maresia no asfalto.
Nas praças navegam horizontes apagados,
sem mapeamento possível,
num hemisfério de sucata.
Jornais nunca lidos espalham palavras
na sombra desses homens,
de borco uns, uns de lado,
mastigando guimbas com lábios cheios de felicidade.
Perdidas memórias nos arquivos,
houvesse algum tempo para reavê-las,
seria minúsculo.
Mas não há:
o tempo fendeu-se como falha geológica
geradora de mortos.
Também não há identidade
nas reentrâncias das ruas,
entre havaianas,
copos descartáveis,
a sopa da noite,
todos sangram por poros iguais,
cruzam a mesma praia nua.
Quem dera houvesse ao menos conchas.
Sérgio Bernardo